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Via Podiensis XII

por jg, em 09.10.25

IMG20251008151517.jpg

 

Logo no início do século xiii, no sul de França, expande-se uma heresia católica a que se chamou o Catarismo. Falavam de um deus dual, o do bem e o do mal e, grande novidade (!) criticavam os excessos da igreja católica.
Também lhe chamam a Cruzada dos Albigenses por esta cidade ser um centro dessa heresia.
Em bom rigor é muito mais do isso. Não está documentado que esta cidade, construída não alto, na margem esquerda do rio Tarn, fosse mais herética do que outros lugares na região. Isso sim era rica e o complexo processo feudal francês de consolidação e agregação, tornou-a num alvo.
Os Albigenses foram pois muito mal tratados, havia que dar-lhes uma lição e fazia falta o exemplo.
Depois de arrasada e recolocada nos eixos, foi construída uma igreja catedral, fortificada, que fosse o símbolo mesmo do poder do deus único, mas não só. Era preciso construir uma coisa descomunal em pouco tempo e com recursos que, se bem significativos não chegavam à dimensão da ambição que impulsionava todo o processo.
Utilizou-se um tipo de tijolo local, barato e que para além de rápido de produzir, não exigia uma mão de obra tremendamente qualificada.
Foi assim que subiu na direcção dos céus a impressionante nova catedral.
Ao mesmo tempo, este gótico meridional, piscava o olho à ideia de despojamento, do agrado das populações locais, e à independência face ao crescente centralismo do rei, em Paris.
Já por dentro, é toda uma outra história.
Nos séculos seguintes a totalidade da superfície interior vai cobrir-se de frescos, que impressionam pelo detalhe, pela riqueza, pela qualidade.
 
Continua a perseguir-me esta reflexão sobre a gente modesta, nas igrejas, neste período. 
Ali estavam, miseráveis, embrutecidos, talvez, escutando uns rituais intermináveis, uns conceitos hiper complexos, num idioma que não entendiam. 
Aí entrava a arquitectura, a pintura, a ourivesaria, para legendarem um acto performativa que permaneceria, de outro modo, incompreensível. 
As paredes, os portais, os capitéis, todo o edifício, precisa então de comunicar com o crente, que esmagam, pelo excesso, pela riqueza, e pela beleza, digo eu.
 
Faz tempo que queria conhecer Albi - excelente oportunidade.

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Três vinténs de sabedoria

por jg, em 27.04.25

Poleiro da Coruja.jpg

...de manhãzinha fui dar um passeio com o cão. 

O tempo de verão que tanto se fez tardar, chegou em força.

Senti um toque, arrastado mas suave, no ombro direito, e uma corrente de ar, frente à testa.

No ramo de uma alfarrobeira, a não mais de dois metros de mim, pousou uma coruja, grande, como uma galinha jovem. 

O pescoço fez duas daquelas rotações acrobáticas. 

Tolo, levei a mão ao telemóvel, olhei-o para que desbloqueasse.

Voltei a olhar a coruja - que já lá não estava.

Será que também me estou a tornar imbecil?

Lá diz o adágio: antes um pássaro que observar do que dois para fotografar.

 

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