Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Escreve, escreve muito, pequenos artigos, grandes artigos, comentários, coisas pequenas, até um dia...

De vez em quando, todos merecemos, encontrar um livro assim. Porque não mais vezes, mais frequentemente? Por que lhe daríamos menos valor e pelo desgaste emocional 😉
Le Barman du Ritz de Philippe Collin, é um desses livros. Grande.
A história conta-se em duas penadas. Passa-se no bar do Ritz de Paris, um lugar superlativo, e tem como peça-chave Frank Meier, aventureiro, de origem polaca, depois austríaco, que combate na Grande Guerra pela França e torna-se um expert mundial em cocktails – o maior barman do mundo – servindo clientes como Hemingway (já repararam que ele está sempre lá? Seja onde for?), Fitzgerald, Chanel, Guitry, you name it. O romance decorre fundamentalmente entre dois eventos: a queda de Paris (invadida pelos alemães) e a libertação de Paris (pelos Aliados), quatro anos mais tarde.
É desta perspectiva, folheada a luxo, que se assiste à descida aos abismos da sociedade francesa. Enquanto uma certa elite faz os possíveis e os impossíveis para continuar a flutuar, num contexto naturalmente colaboracionista, que o autor utiliza como cenário, mas também contexto e caldo de cultura para os heroísmos do possível.
Frank, é indubitável, colabora, mas também se empenha e arrisca profundamente para salvar pessoas perseguidas pelo ocupante.
Com uma fleuma, indissociável do perfil psicológico de alguém que esconde a sua origem, polaca, atrás da infância austríaca e combate na Grande Guerra do lado oposto às suas origens, Frank é sempre de uma contenção que chega a ser perturbadora. É que ele é portador de um segredo que quase não o é – uma paixão por uma mulher casada – e de outro que o é, apesar de algumas suspeitas aqui e além, quase até ao final, – é judeu.
Duvido que me apareça até ao final do ano meia mão-cheia de coisas tão boas como esta – mas cá estamos.